
PARA A VIDA CONTEMPORÂNEA
Renovando Nosso Entendimento
25/04/2014 23:25
Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Romanos 12.2
Primeiramente, precisamos entender que quando Paulo trabalha com os romanos a questão da renovação do entendimento ele está falando para um grupo de pessoas que é reconhecido pela capacidade de pensar. Que tinha o conhecimento como uma de suas grandes marcas.
Quando trabalhamos a idéia de renovação da mente, ou renovação do entendimento, quero trabalhar a questão da totalidade do ser. Em nossa cultura adquirimos a cultura de departamentalizar nossa vida. Temos um jeito de ser quando falamos em família. Agimos de uma outra maneira quando pensamos em religião, igreja. Temos uma outra postura em nosso ambiente de trabalho ou no ambiente acadêmico.
Aqui em Romanos, encontramos essa idéia de entendimento, mente, não representando somente partes do ser humano, mas usada como uma palavra que apresenta algo mais interior. Algo mais profundo. Estamos falando da totalidade do ser. A idéia de não deixar de fora.
E quando falamos de renovação da mente, talvez seja algo que soe estranho a nós. Estamos acostumados com o aquecer do coração, a elevação da alma, o revigorar de nossas forças, mas nunca o renovar da mente.
Mas vamos aprofundar um pouco mais aqui. Como podemos usar a nossa mente para honrar o nome de Jesus, glorificar a pessoa de Cristo? Ter Cristo Jesus no centro de meu pensar? Como dedicar a nossa mente Àquele que fez a nossa mente?
Sabe por quê? Vamos pensar! Estamos acostumados a pensar que honramos o nome de Cristo quando cantamos músicas que falam de Sua grandeza. Quando pregamos Sua Palavra. Quando evangelizamos. Quando realizamos ou investimos em missões. Quando estamos trabalhando em favor de algo que ajude ao próximo. Mas geralmente não pensamos em honrar a Cristo com a nossa mente.
Como Cristo pode ser o centro do meu pensar quando não estou em um ambiente de adoração? Num acampamento como esse é maravilhoso pensar em Cristo e ter a mente preenchida por Cristo. Mas é difícil quando estamos no trabalho e a maioria das pessoas o desprezam e desprezam a nossa fé. E esquecemos que tudo o que fazemos deve ser para a glória de Deus, e não somente o que você faz, mas a maneira como você usa a sua mente para fazer.
Todos nós aqui já ouvimos alguém dizer que precisamos ser crentes de segunda a segunda. Que precisamos ser crentes todos os dias da semana e não somente no domingo. E normalmente quando ouvimos isso, nossa resposta é: verdade! Eu preciso de mais santidade no meu namoro. Eu preciso investir mais na vida do meu próximo. Preciso me dedicar mais à oração e à leitura da bíblia.
Poucas vezes, ou quase nunca, você reflete sobre o que é pensar biblicamente como um cristão. Resolver os problemas do seu trabalho como um cristão. Ser um profissional que se destaca dos outros porque pensa como um cristão. Essas coisas normalmente não passam pela nossa cabeça. Mas hoje vamos trabalhar sobre a renovação do nosso entendimento.
Mas o que é renovar o nosso entendimento? Precisamos parar e pensar sobre isso.
O renovar a nossa mente, ter a mente de Cristo Jesus, nos leva à idéia de integridade. Integridade é dar-se por inteiro ao Senhor. Não só na conduta, mas também na mente. Eu falo isso porque quando falamos em uma entrega total ao Senhor, quando somos convidados a entregar o coração ao Senhor, nós pensamos em conduta, na forma como vivemos. É isso que vem à mente da maioria dos crentes. Nós fomos trinados assim.
Fomos levados a pensar, cultivamos em nossa mente, que um cristão consagrado ao Senhor, é simplesmente uma pessoa que tem uma conduta correta de segunda a segunda. E não trabalhamos a idéia do que é pensar como cristão o tempo todo. Seja no trabalho, nos estudos, na família, em casa, no dia a dia. É isso que precisamos resgatar, é isso que temos perdido.
E isso não se refere simplesmente ao estudo da bíblia. Na verdade, é fantástico ver crescer nosso entendimento quando mergulhamos de cabeça na bíblia e percebemos Ele se revelando a nós.
Mas possuímos uma outra forma, uma outra fonte que revela a grandeza de Deus: Sua criação. Nossa mente tem a capacidade de nos levar a conhecer o que Deus faz, entender a grandeza de suas obras e encontrar prazer em Deus.
Um exemplo é quando pegamos o Salmo 111.2 “Grandes são as obras do Senhor; nelas meditam todos os que as apreciam.” Encontramos um lógica, um raciocínio, um funcionar da mente a um processo de entendimento.
Primeiro, precisamos entender que para escrever um Salmo desse é necessário considerar as obras do Senhor para dizer: de fato grande é o Senhor! Perceba que o salmista está exaltando a Deus, porque primeiro ele olha a grandeza do Senhor e então ele fala: Meu Deus! O Senhor é muito grande! Que coisa linda! Ele olha para aquilo que Deus faz e se encanta. Ele se compraz. Ele sente alegria nas coisas que ele estudou acerca de Deus.
O salmista não está falando somente de estudar a bíblia, ele está falando de se alegrar nas coisas que Deus fez. E tudo o que realizamos em nosso dia a dia, não importa a profissão, faculdade que cursou, se tem pós graduação ou não, se você faz alguma coisa, certamente você faz algo que está relacionado ao que Deus criou. E precisamos aprender a meditar e ter prazer nas coisas que Deus criou.
É isso que o salmista faz. O salmista valoriza a Deus através das coisas que se aprendem. E isso é uma coisa pouco cultivada em nosso meio. Precisamos compreender que pensar funciona para “despertar” e “expressar” o amor. Quanto mais conhecemos a Deus, mais o amamos. Quanto mais o amamos, mais desejamos conhecê-lo.
Quando começamos a pensar em Deus, à medida que somos levados a refletir mais sobre o Cristo Salvador, Sua história, quem Ele é, o que Ele fez por nós, isso desperta mais amor, interesse, o desejo de nos relacionarmos com Ele.
O problema de nós evangélicos é que muitos de nós não querem pensar. Tem aqueles anti-intelectualistas que vão ter sempre um conhecimento reduzido acerca de Deus. E isso é muito sério! As pessoas acham que podem se dedicar ao Senhor sem conhecer ou querer conhecer mais a Deus.
O conhecimento foi o veículo que Deus nos deu para começarmos um relacionamento com Ele ou com alguém. Quando você conhece alguém, você se interessa por essa pessoa. Você deseja ficar perto, compartilhar com essa pessoa. Sabe por quê? Quanto mais você conhece, mais você se encanta.
E o conhecimento é importante porque às vezes leva ao contrário. Perceba a importância do conhecimento. Porque às vezes você vai conhecer e dizer: Hum! Não é o que eu pensava.
Com Deus nós não somos só despertados a amá-lo mais através do conhecimento que temos acerca dele, mas o conhecimento que tenho d’Ele me leva a expressar o meu amor. Quando conhecemos as obras do Senhor, e nos comprazemos nelas, estamos expressando o amor a Deus.
Um boa ilustração é a do filme Cônicas de Nárnia, de C.S. Lewis. Tem um momento no filme que Lucy, a menina mais nova, sai da terra de Nárnia e fica um ano fora para estudar. Chega então o momento em que ela retorna a Nárnia, e quando encontra Aslan, o leão, ela diz: Uau! Como você cresceu! Na mesma hora, Aslan diz: Não! Eu continuo o mesmo, quem cresceu foi você!
Interessante! Quanto mais Lucy crescia, maior Aslan se tornava aos seus olhos. Quanto mais eu cresço no meu entendimento acerca de Deus, maior Ele fica aos meus olhos. Por isso, precisamos conhecê-lo mais, e conhecer mais o que Ele fez. Precisamos renovar a cada dia o nosso entendimento acerca de Deus. E não é preciso ser inteligente ou possuir uma vasta cultura para conhecer a Deus. Você conhece a Deus conforme o seu entendimento. Deus trabalha de uma maneira particularizada, singular.
Quando falamos de entendimento, falamos também de habilidade. Podemos trabalhar a área da habilidade. Alguns são bons em artes, outros aptos em ciência, alguns são mais teóricos, outros mais práticos. Usar a mente de maneira cristã é utilizar aquilo em que você tem habilidade, que você faz melhor, para honrar a Deus.
E é aqui onde encontramos a melhor parte. O pastor John Piper, falando acerca da mente, nos traz uma idéia bem legal: honrar a Deus extensiva (com cada área da nossa mente), e intensivamente (com totalidade de força em cada área de nossa mente).
E talvez aqui é onde temos falhado. Nós estamos acostumados ao uso da mente para algumas coisas específicas, por exemplo, para louvar a Deus, para engrandecer a Deus, mas não em todas as atividades da mente.
E o certo deveria ser uma totalidade. Quando você desenvolve um projeto, realiza um trabalho, estuda pra um concurso, você está desenvolvendo um conhecimento acerca de Deus. Então é extensivamente e intensivamente. Mas poucas vezes nós pensamos em Deus quando falamos em mente. E muito menos honrar a Deus com a nossa mente.
E talvez você já tenha ouvido falar sobre isso, mas geralmente não trabalhamos todas as ramificações. Precisamos parar de dicotomizar a mente. Desde crianças aprendemos que existem atividades da mente que são sagradas e atividades da mente que são seculares. E nós fazemos isso frequentemente.
É comum encontrarmos dificuldade para separar o que é de Deus e o que não é de Deus. Sabe por quê? Nós temos a tendência de definir o que é de igreja e o que não é de igreja em vez de definir o que honra ao Senhor e o que não honra ao Senhor. Seja de igreja ou não. Mas não pensamos assim. Dividimos a nossa vida no tempo que estou na igreja e no tempo que estou fora da igreja.
E para muitas pessoas a igreja passa a ser um lugar de fuga em vez de ser um lugar de comunhão, adoração e intimidade. Erramos quando só pensamos em igreja e erramos quando só pensamos nas coisas seculares. E aí cabe a pergunta: será que nossa atividade religiosa é norteada pela nossa fé? Será que tudo o que você faz é dirigido por sua fé em Cristo Jesus? Pela nossa devoção a Cristo Jesus?
E falo isso porque vejo que a cada dia estamos sendo levados a não pensar como cristãos. Pensamos como pessoas que não passaram pela renovação de suas mentes, por uma transformação do entendimento.
Ilustração: “Casamento – estabilidade financeira” (Heber Campos Jr.)
O problema de pensar assim é que quando buscamos estabilidade financeira, buscamos confiança em outro que não o Senhor. E hoje muitos de nós estamos pensando como o mundo.
Um outro exemplo de que devemos pensar como cristãos é um que envolve nossas profissões. Somos profissionais que são cristãos (fé anexada à vocação), ou somos cristãos que são profissionais (fé transformando a vocação)?
Profissionais cristãos, todos nós conhecemos um monte. Mas cristãos que são profissionais talvez você não conheça muitos. Eles são raros. Fomos ensinados que fé e trabalho são iguais a duas peças de lego. Acreditamos que quando conectamos as duas estamos fazendo algo fantástico. Mas continuam sendo duas partes separadas. Você consegue separar, desconectar.
A nossa mente deve se alegrar quando a nossa fé não simplesmente conecta, mas permeia, adentra toda nossa vocação. Lembremos do exemplo de Jesus com o fermento. Nós não vemos o fermento trabalhando, mas ele está fazendo toda a massa crescer. Trata-se de influência. A nossa fé deve permear todas as áreas de nossa mente.
Você percebe que geralmente não encontramos um profissional cristão. Um profissional que aplica mais que conteúdo manifesta essência.
Nossa cultura nos ensinou a realizar algo sem saber o valor que isso carrega. Precisamos pensar sobre isso. Começar a pensar nos valores que estamos carregando, nos valores que estão proporcionando a cada um de nós. Você e eu podemos ter o mesmo treinamento que o mundo tem e pensarmos como cristãos.
Uma pergunta: somos seguidores de cultura ou formadores de cultura? Esse é um dos problemas mais comuns no meio evangélico brasileiro. Nós imitamos o que os outros fazem, só que na versão gospel. É só colocar o rótulo gospel.
Tanto é que nós não sabemos desenvolver um tipo de música que não seja cristã. Não conseguimos entender que existe música que tem espaço dentro da igreja, e tem música que não tem espaço dentro da igreja. E não existe nada de errado com isso. Não é porque não tem espaço dentro da igreja que é pecaminoso.
Quer ver? Quando um cristão compõe alguma coisa, ele pensa em tocar dentro da igreja. E se ele tem uma banda que tem composições próprias ele pensa em tocar no culto. Em que espaço um cristão vai tocar se não for no culto?
Precisamos entender que nós somos frequentemente imitadores da cultura dos outros. E você pode ser um cara de igreja o tempo todo e ser tremendamente mundano. Por que o mundanismo não é algo que você faz lá fora, é um vírus. Ele pega você. Você pode estar dentro da igreja e ser completamente mundano. Simplesmente por pensar como o mundo pensa.
Precisamos começar a assimilar o que temos deixado entrar em nossas mentes, seja para nossa diversão, seja para nosso crescimento intelectual. Eu quero que você pense nessas coisas.
Você está entendendo isso? Porque não é só na igreja. Se você é uma pessoa que estuda a bíblia e zela pela doutrina, amém! Louvado seja Deus! Mas faça mais do que isso. Pegue tudo o que você aprende aqui e comece a aplicar no contexto onde você está inserido, para a glória do seu Deus.
Vamos terminar com um exemplo bíblico. Daniel e seus amigos no capítulo 1 de Daniel. Daniel é submetido a um treinamento rigoroso. A bíblia fala que ele e seus amigos tiveram um treinamento de 3 anos na cultura babilônica.
Isso aqui é importante! Você precisa entender que o propósito da preparação não era apenas ter bons servos para Nabucodonosor. O tempo de preparação era de 3 anos, tempo suficiente para matar a identidade daqueles jovens. É possível que Daniel e seus amigos tivessem cerca de 15 ou 16 anos, apenas.
Nabucodonosor foi estratégico. Ele escolheu uma idade que é o limite para transformar alguém, fazer alguém absorver uma cultura. Quando você é adolescente é mais fácil absorver uma nova cultura, mas quando se é adulto, já não se consegue mais fazê-lo com facilidade.
A idéia então era deletar a identidade de Daniel e seus amigos. Eles aceitam a mudança de nomes (nomes de deuses pagãos), e até a educação babilônica (magia, astrologia, etc), mas não aceitam a dieta alimentar (desobediência explícita). Primeiro, porque na dieta alimentar se comeria carne, o que não seguiria a dieta judaica. E segundo, porque quando um babilônico comia, ele o fazia em culto ao seu Deus. E Daniel pede ao Senhor que o livre disso.
O que podemos tirar de lição disso:
Eles receberam 3 anos de treinamento, um treinamento muito bom, a federal da Babilônia. Eles estudavam no lugar! Mas ao estudar, eles não se contaminaram intelectualmente. Porque estudo não é necessariamente se contaminar. Eles estudaram e Deus lhes deu o conhecimento (v.20). Não é fugir do estudo, mas estudar com filtro.
Porém quando Nabucodonosor chega pra ver como eles haviam se saído, diz o texto no v. 17, que eles eram muito mais doutos do que os demais. E a pergunta é: por quê? A razão é porque eles tinham uma visão de mundo diferente. Em termos de conhecimento eles tiveram as mesmas coisas. Só que eles tinham a vantagem de uma visão de mundo muito mais coesa, onde as coisas do conhecimento fazem muito mais sentido.
Vocês tem a vantagem de estudar na faculdade que os seus colegas estudam, só que eles não têm a visão de mundo que vocês têm. Você tem todas as condições de ser muito mais douto, não só por ser mais inteligente, mas as coisas fazem sentido na sua vida, elas se encaixam. Você tem condições de trabalhar num lugar onde a sua fé permeia o seu trabalho, a sua visão de mundo te dá isso.
Não perca isso. Não jogue isso fora. Não pense nisso só na hora do louvor cantado, só na hora da pregação da palavra. Isso é renovação do seu entendimento.
Romanos 12.2
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